Quando leio as notícias sobre aquecimento global é muito raro que não haja, em cada uma delas, uma explicação sobre os impactos econômicos previstos ou já acontecidos. Gostaria muito que nessas oportunidades fosse enaltecida a importância protetora da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas associados. A conotação é mais voltada para os possíveis prejuízos na “produção humana” e o empobrecimento da economia. Fala-se pouco sobre os benefícios “naturais”: aqueles que não estão incluídos nos cálculos convencionais, conhecidos como bens ambientais ou bens difusos.
Os caminhos neotropicais da água no Brasil e seus aspectos ecológicos, econômicos e sociais.
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Os cemitérios aquáticos: por que estamos matando os nossos rios?
Quando leio as notícias sobre aquecimento global é muito raro que não haja, em cada uma delas, uma explicação sobre os impactos econômicos previstos ou já acontecidos. Gostaria muito que nessas oportunidades fosse enaltecida a importância protetora da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas associados. A conotação é mais voltada para os possíveis prejuízos na “produção humana” e o empobrecimento da economia. Fala-se pouco sobre os benefícios “naturais”: aqueles que não estão incluídos nos cálculos convencionais, conhecidos como bens ambientais ou bens difusos.
domingo, 21 de novembro de 2010
Anfíbios ameaçados, nós também
Existem mais de seis mil espécies de anfíbios no mundo. Esses vertebrados são popularmente conhecidos como sapos, rãs, pererecas, salamandras e cecílias e somam mais de 800 espécies no Brasil. Algumas delas foram descobertas recentemente e muitas outras permanecem desconhecidas. Pelo fato de serem, muitas vezes rotulados de nojentos e pegajosos, boa parte da população ignora os benefícios que os anfíbios nos oferecem. Por exemplo, prestam serviços sanitários relevantes ao capturar insetos e outros invertebrados que podem atuar como vetores de dezenas de doenças que afetam seres humanos e outros animais. Teríamos muito mais pessoas internadas com doenças tropicais se os anfíbios não existissem.
Entre os anfíbios brasileiros da ordem ANURA, as rãs são conhecidas pela elevado valor biológico de sua carne sendo comum a recomendação de sua ingestão para as pessoas debilitadas. A rã brasileira nativa mais caçada é a GIA ou RÃ-MANTEIGA (Leptodactylus ocellatus) (Foto por Cláudio Dias Timm), ainda encontrada em alguns brejos do interior, tendo quase que desaparecido da periferia das grandes cidades. Apesar de sua rica diversidade, o Brasil consome a RÃ-TOURO-GIGANTE (Lithobates catesbeianus) ou (Rana catesbeiana), uma espécie alienígena (americana do norte) criada em cativeiro e vendida congelada em supermercados mais sofisticados. A espécie tem sido encontrada também em vida livre no Brasil. Representa uma ameaça para outros anuros indígenas.
Salamandras são espécies da ordem dos URODELOS (CAUDATA) com hábitos aquáticos ou terrestres. A espécie brasileira é terrestre, da família Plethodontidae.
Seus indivíduos respiram pela pele e não possuem pulmões. Não há forma larvar e os indivíduos desenvolvem-se a partir de “miniaturas” dos adultos. O gênero Bolitoglossa (Foto por Paulo S. Bernarde) está atualmente representado por uma única espécie amazônica no Brasil, mas é muito provável que novas descobertas venham aumentar esse número nos próximos anos.
GYMNOPHIONA
Cecílias são anfíbios da ordem GYMNOPHIONA de hábitos fossoriais, pouco conhecidos da ciência. Não possuem membros e, a primeira vista, parecem um grande verme (Foto por Paulo S. Bernarde). Alimentam-se de minhocas, cupins e larvas. Existem cecílias ovíparas cujas fêmeas cuidam dos ovos e outras são vivíparas. Vivemos a fase inicial de nossa vida dentro de uma bolsa líquida, como anfíbios dependentes da água. Somos um pouco parecidos com eles nesse aspecto e, se estão ameaçados, também nós devemos nos preocupar com o destino dessas incríveis criaturas.
sábado, 20 de novembro de 2010
O pré-socrático Thales: a água como elemento primordial
O pensador Thales foi um dos sete sábios da Grécia e dominava conhecimentos importantes aprendidos na Babilônia: astronomia e meteorologia, o que lhe permitiu destacada atuação na agricultura, conforme contam as conversas da época, nem todas acompanhadas de uma razoável credibilidade. Valorizou a importância da água, num tempo onde ela era pura no mundo hidrosférico, ainda sem revolução industrial. A água seria o princípio de todo o universo. Sua capacidade de mutação, ora nas nuvens, ora num rio, ou mesmo compondo o nosso corpo, faria dela um elemento mágico.
Depois de muitos séculos, estamos vivendo um momento crítico que nos faz lembrar de Thales, que dizia: “tudo é um”, e a razão é uma extensão da natureza. Muito incrível esta afirmação! Com base nesta genial sacada, devemos considerar seriamente tudo o que estiver envolvendo a água na atual cultura consumista globalizada, já que ela pode estar em diferentes locais de uma hora para outra.
Uma pessoa adulta de 70 quilos retém em seu corpo cerca de 40 litros de água durante sua vida, até que morra. Quando isso ocorre, a água é outra vez liberada para retornar ao ecossistema. É possível que uma boa parte se infiltre no solo. Outra parte dela deverá compor o corpo dos decompositores e demais organismos associados a eles que vão se multiplicar a partir da matéria sem vida. Isso tudo sem contar a água que vai para a atmosfera.Se imaginarmos que o mundo fosse constituído somente por humanos com 70 kg de peso, nós estaríamos retendo - em 2050 -, cerca de 360.000.000.000 (trezentos e sessenta bilhões de litros de água). Isso, sem contar a água usada para banho do corpo, escovação dos dentes e lavagem da boca, lavagem de alimentos, cocção de alimentos, lavagem de roupa, descarga de banheiro sanitário, lavagem de carros, lavagem de calçadas, cuidados com plantas e jardins (as plantas também retêm água) e tantos outros usos. Nos oceanos flutua uma infinita quantidade de seres microscópicos cujos corpos não são visíveis aos nossos olhos. Se pudéssemos vê-los teríamos a sensação de uma mancha de vida quase que contínua em vez de ondas de “água”.
Cada quilo do que chamamos de carne representa “um pacote” de água com alguns nutrientes organizados geneticamente. O Brasil é um grande exportador de água para os países onde ela começa a ficar escassa. É um de nossos grandes trunfos econômicos: o nosso ouro líquido. Não precisamos usar nenhuma tecnologia mais sofisticada para chegar até ela. Basta se abaixar e beber. Basta encaminhá-la para onde desejamos.