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domingo, 8 de janeiro de 2012

Palafitas: uma solução pré-histórica para questões contemporâneas do século XXI.



Colaborador: Roberto Rocha

O homem sabido contemporâneo do século XXI , é o mesmo hominídeo – Homo sapiens - que vivia no período Neolítico, na pré-história. Mesmo sem contar com a NASA ou com o INPE, ele já sabia que para continuar vivendo no mesmo lugar de sempre, teria que aprender a conviver com os movimentos das águas de cima (grandes chuvas) e das águas de baixo (enchentes, alagamentos etc). Se nós não somos seres aquáticos, isso quer dizer que não há possibilidade de sobreviver “dentro” d'água. Precisamos ficar longe dela, bebendo um copo ou outro, de vez em quando. Tomando banho ou lavando as nossas roupas. Nessas oportunidades precisamos estar em contato íntimo com a água. Isto é, somos nós que escolhemos o momento que desejamos essa intimidade. Não é o que ocorre com as chuvas de verão, porque elas destroem e danificam tudo que estiver em sua frente. Preste atenção na frase: tudo que estiver em sua frente. Mas vem a pergunta: e se não houver nada na frente para destruir? Então ela passa tranquilamente; vai até onde a bacia permite, e depois retorna para o seu leito original. No entanto, as águas encontram pontes, casas, estradas, barragens, tudo obstruindo seus caminhos naturais. Para onde ir? É lógico e óbvio que dependendo da forças em luta – as do concreto e ferragens e o peso e velocidade das águas – alguma coisa vai ficar e alguma coisa vai sair. Os rios foram desenhados com meandros, isto é, fazendo curvas, para minorar a velocidade das águas. O que fazemos: procuramos retificá-los, abrindo retas e concretando suas margens. O que vai acontecer: sem curvas e sem obstáculos (árvores, raízes, barrancos) ela - a água - ganha uma velocidade incrível, buscando o oceano. A rapidez das enormes massas hídricas arranca com maior facilidade o que estiver pela frente: “água mole em pedra dura...”. Mas o homem pré-histórico já sabia de tudo isso, mesmo sem ter frequentado uma universidade. A cultura dos seus antepassados – diga-se de passagem, com alguns milhares de anos - depois de muitas mortes, muitas chuvas e muitas enchentes, apresentava uma solução simples: as palafitas. A resistência de um pilar e muito menor do que a de uma parede. Coloque um lápis em pé num corrente de água e veja o que acontece. Depois coloque um caderno deitado no meio da corrente. Compare as duas coisas. Em que situação você acha que houve maior resistência? Então vem nova pergunta: por que não construímos casas e blocos de apartamentos sobre pilotis nas áreas mais ou menos próximas dos rios? Veja bem, eu disse, mais ou menos próximas! As margens dos rios não devem ser ocupadas por nenhum tipo de construção. Apenas a mata ciliar, que é específica para essas áreas. Resistem melhor às cheias e fornecem abrigo e alimento para a fauna que a frequenta. Infelizmente em vez de aumentar as áreas de matas ciliares, elas estão sendo cada vez mais reduzidas. Um verdadeiro absurdo e um crime previsto na legislação. O lucro alegado pela ocupação das margens dos rios, especialmente pela agricultura e pela pecuária, vão desarticular todo um sistema complexo de proteção das bordas, assoreando o rio e eliminando as possibilidades para que outras plantas sobrevivam ou que outros animais possam viver ali. Além da perda de biodiversidade, os rios cheios de terra forçam as águas a ocupar vastas áreas da bacia hidrográfica. Vidas humanas são perdidas, animais morrem afogados, plantações são inundadas, móveis são arrastados e inutilizados, equipamentos elétricos ficam danificados, documentos são extraviados, memórias são perdidas. Os prejuízos são astronômicos. A população reclama, os prefeitos reclamam, mas a cada ano o cenário se repete. Alarmes são instalados na tentativa de evitar mortes, mas não resolvem a questão principal. Falta uma cultura que valorize a natureza não como algo belo somente. Trata-se de uma questão econômica. Milhões e milhões em dinheiro são perdidos, a cada ano, por desrespeitarmos as normas da natureza. Concretar rios, calçadas e estradas, só aumentam a impermeabilidade do solo e fazem com que as águas se acumulem cada vez mais. Porque as estradas não são porosas? Se somarmos a isso, uma nova realidade, que é o aquecimento global, teremos um quadro caótico e desastroso. Dragagens são soluções paliativas. A solução principal está na proteção das margens com suas matas originais, um bom planejamento e controle da ocupação do solo, educação, fixação do homem no interior, fiscalização e punição rigorosas para quem desrespeita a vida dela mesma e a vida dos outros. As palafitas podem ser uma solução, devidamente planejadas, situadas em áreas sujeitas a alagamento, mas não nas margens dos rios. As partes baixas podem ser usadas para outras atividades, esportes, oficinas de arte e outras atividades. Nada super-construído. Tudo muito simples e fácil de transportar numa emergência. Mesmo que numa nova enchente elas sejam perdidas, não representarão prejuízos tão severos. Trabalhar com escalas menores quer dizer menos problemas. Perder uma horta não é o mesmo que perder 1000 hectares de qualquer plantio. Áreas muito inclinadas também não podem ser ocupadas porque elas, mais cedo ou mais tarde, podem desabar e levar consigo toda uma economia de um município. Basta voce olhar as grandes pedras (matacões) que estão nas margens dos rios para saber que ali aconteceu alguma coisa desastrosa, num passado não muito distante. Vales íngremes devem servir para a prática do turismo, fotografias, lazer, unidades de conservação, mas nunca de moradias permanentes. Para não ser tão radical, quem sabe também imitar o homem-da-caverna, isto é, aquele que vivia em tocas, nas partes mais altas. Quem sabe além dos buracos naturais, poderíamos "cavar" dentro das rochas e morar lá dentro, deixando tudo lá fora como a natureza gosta? Ao que parece, o Homo sapiens neoliticus sabia lidar melhor com os desastres do que o Homo sapiens universitarius. É verdade que não tínhamos megalópolis e nem tanta gente.  Mas não estou criticando a ciência que tanto amo; estou sentindo a falta de uma visão mais ampla e sensata que inclua a natureza como nossa parceira, para que com todo o conhecimento que temos atualmente, possamos celebrar o casamento perfeito, unindo serviços dos ecossistemas, bom senso, conhecimento científico, negócios e felicidade. Ugh! Ugh! Mim, homem da caverna e das serras! Ele, homem da palafita e das baixadas! E você, será um homem cavernoso...

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