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segunda-feira, 23 de março de 2015

Vai faltar água no planeta oceano?



Colaborador Roberto Rocha

Estão dizendo por aí que a água é um recurso escasso! Será mesmo? Eu entendo que se fosse escasso mesmo não haveria como irrigar milhões de toneladas de soja anualmente e nem como alimentar milhões de animais exóticos para abate criados no Brasil. Se houvesse mesmo escassez de água não produziríamos milhões e milhões de litros de refrigerantes regularmente; se houvesse mesmo escassez de água a indústria ficaria paralizada. Se houvesse mesmo escassez de água todas as formas de vida da Terra não sobreviveriam porque seus corpos são constituídos de, pelo menos, 70 % de água. Se houvesse mesmo escassez de água os oceanos estariam secos. As bacias hidrográficas não existiriam. A umidade do ar desapareceria. Os rios voadores não existiriam. O que ocorre realmente é uma apropriação irresponsável desse recurso em nome de um PIB gordo e de interesses particulares altamente lucrativos. Não existe uma política séria no país que considere prioritária a conservação da "água para todos" e não para somente os humanos. As florestas são desrespeitadas. As matas ciliares estão cade vez mais raras, e isso pode ser comprovado em qualquer imagem de satélite menos potente. Pode ser comprovado voando pelo Brasil Central e arredores. O Cerrado é a caixa dágua do Brasil e já está sendo arruinado pelo interesses eco-nômicos, mas não eco-lógicos. O cerrado já é - vergonhosamente - um dos 34 HOTSPOTS do planeta. Isso quer dizer que nós estamos sendo - já há muito tempo - incompetentes para lidar com os nossos próprios recursos. Nós não temos escassez! O que temos é uma "apropriação" desse recurso por grupos de poder; por desmatamento irresponsavel das matas ciliares que não conseguem proteger nada; pela impermeabilização das cidades que não permitem que a água retorne para os lençóis freáticos, porque são escoadas rapidamente de volta para o mar, sem alimentar os afluentes dos rios principais. Temos ainda a agravante da perda de sedimentos e empobrecimento do solo através de processos erosivos. Se houvesse escassez mesmo, nós não teríamos o luxo de desperdiçar quase a metade dela ao ser distribuída nas cidades. Nosso planeta deveria ser chamado de PLANETA ÁGUA porque o que mais temos no mundo é água! Ou será que essa água toda está em Marte? Ou será que desconhecem que boa parte da água doce vem dos oceanos em seu grande ciclo hidrológico? Nós não temos que economizar (o próprio "economizar" sugere algo ligado aos interesses econômicos). Nós precisamos sim entender que a água é necessária para os "serviços dos ecossistemas" e que interessa a "todos" os seres vivos da Terra e não somente para criaturas humanas. Tudo está ligado! O que precisamos é respeitar a flora e a fauna nativas como fazendo parte desse sistema hidrológico complexo que não depende de barragens somente. Esses organismos precisam de água tanto quanto nós! E são eles que garantem o funcionamento dos sistemas! Sem os serviços dos ecossistemas nós teremos astronômicos prejuízos nos próximos anos. Imagine os polinizadores morrendo de sede! Como será que vamos fecundar as plantas? Vamos contratar mão de obra especializada? Nós já deveríamos ter iniciado o processo de restauração ecológica na década de 70! Estamos  45 anos atrasados! Ou será que vamos esperar até 2050?

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Os ciclos da água

Colaborador Roberto Rocha

Existem dois tipos de ciclo da água: o pequeno ciclo geoquímico onde a água é retirada, por exemplo, dos oceanos e retorna a ele sem chegar ao continente e nem integrar nenhum ser vivo. O segundo tipo é o ciclo biogeoquímico onde a água chega até o continente e por diversos caminhos “penetra” nos organismos (mata a sede de microorganismos, fungos, plantas e bichos) assim como penetra em nós quando bebemos água. À medida que os seres morrem eles devolvem a água que acumularam em seus corpos. Nós também somos pequenos reservatórios de água (70% do nosso corpo é água). A diferença é que se nós temos que esperar mais de 70 anos para devolver a água corpórea que liberamos na morte, existem microorganismos que vivem apenas alguns dias e liberam essa água também da mesma forma que nós. Imagine alguns bilhões (eu disse bilhões!) de criaturas microscópicas armazenando água no solo e na serrapilheira (chão da floresta)? Já viu uma praia? Voce pode imaginar que ela é constituída de pequeníssimos grãos de areia? No entanto ela se estende por quilômetros e quilômetros! Será que os “pensadores” de soluções para a crise hídrica levam esses dados em consideração? Dessa forma, a biota – conjunto de organismo de uma determinada região – é fundamental para “segurar” a água e evitar que ela volte rapidamente (como sempre faz) para os oceanos, passando primeiro pelos rios e demais caminhos de retorno. Se desejarmos resolver a questão da crise hídrica atuando somente em pequenos pontos dos ciclos (barragens) nós não teremos uma solução eficiente e eficaz. O ciclo da água é estudado em ciências nas escolas mas parece que não é apresentado com a devida relevância e os alunos apenas decoram a lição para “passar de ano” sem conectar o fato à sua própria vida e a de outras criaturas não humanas. A educação ambiental deve prencher esta lacuna de sobrevivência coletiva para que os futuros políticos, prefeitos, governadores e demais representantes públicos percebam a importância dessas lições ecológicas e passem a valorizar as opiniões de especialistas que tratam da vida e dos serviços ecossistêmicos não apenas da água como se ela só existisse num copo, numa lata ou numa caixa; seja de vidro, de barro ou de concreto…

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O óbvio ululante

Colaborador Roberto Rocha

As questões ambientais não são somente ambientais. Elas são sociais e econômicas também. Tudo está ligado. Ocorre que só percebemos esta dependência quando sentimos essa realidade na nossa pele, no nosso bolso, na nossa casa, na nossa rua, no nosso trabalho, entre outros. Será que vai faltar água? Será que vai faltar energia elétrica? Só valorizamos aquilo que precisamos e que nos falta na hora de nosso interesse consumista. Fora isso, vamos "empurrando com a barriga". Nossa visão apertada entre antolhos não permite ver o entorno das dependências ecossistêmicas. Fico pensando que enquanto todo mundo fala do excesso de CO2 na atmosfera, esquecem do vapor dágua, muito mais relevante para afetar as condições climáticas. A perda de biodiversidade deveria ser nossa maior preocupação, aliada à conservação da água. Quando se fala de água devemos falar de reservatórios naturais - as florestas - sem desmerecer qualquer outro sistema importante. Mas insisto nas florestas porque elas não garantem apenas uma boa cota hídrica que flue aos poucos para os rios. Elas são a morada de milhões de criaturas que enriquecem o solo e garantem o ciclo vital de cada uma delas. Nos oferecem a umidade e a sombra que ameniza o calor sufocante das cidades de concreto e ferro. Lamentavelmente, seus espaços estão sendo impermemabilizados e ocupados com equipamentos destinados aos humanos, exclusivamente. As cidades são grandes piscinas a ceu aberto. A água não consegue mais se infiltrar no solo. Alaga as residências, interrompe o trânsito, mata pessoas e animais. Também me preocupa o aquecimento dos oceanos e a pesca predatória porque essas nudanças trarão consequencias extremas para a nossa espécie. A questão primordial não está apenas na atmosfera, está na interação com os oceanos, está relacionado às correntes quentes e frias. Os oceanos atuam como reguladores térmicos da Terra. Embora seja, processos mais lentos que aqueles percebidos no ar, eles são tremendamente relevantes. Nessa altura do campeonato os governos deveriam estar dando atenção máxima aos oceanos. Formando especialistas em oceanologia. Mas quem está fazendo isso com seriedade? Quem criou a vida na Terra foram os organismos! E nós estamos centrando nossas atenções na atmosfera. Será que nós estamos equivocados? A quem interessa esse movimento internacional para valorizar o aquecimento global? O planeta já passou por várias alterações em suas composições químicas no passado. e passará por outras no futuro. As mudanças climáticas não são nenhuma novidade na história de Gaia. O que temos de novo é que agora estamos aqui para assistir e fazer parte do jogo. Nos primeiros jogos nós nem existíamos como "gente". Será mesmo que somos tão relevantes com nossas atividades e avanços tecnológicos a ponto de mudar toda uma estrutura planetária que nunca foi estável? É verdade sim - e isso está confirmado; e não precisamos de nenhum painel especializado - que a nossa biodiversidade está sendo desrespeitada e eliminada. Com certeza os serviços ecossistêmicos já estão afetados por conta dessa hecatombe biológica. Esse tema é que deveria estar nas nossas discussões atuais. Os jovens conhecem os nomes do principais jogos eletrônicos mas não sabem identificar os animais e plantas nativas do seu país. A ignorância ecológica é astronômica! Estamos cada vez mais emparedados e não dá para ver o Sol entre os corredores das avenidas principais. Nem mesmo olhamos para o alto. Olhamos para as vitrines, para os bares, os restaurantes e outros componentes artificiais. Estamos nos afastando da relação com a vida, com o que se move, Até para falar está difícil porque nós usamos o celular e os dedos. Ficamos horas concentrados nas telinhas coloridas! Estão nos transformando em bonecos automatizados e obedientes aos sistemas consumistas. A propaganda que o diga! Será que estamos ficando insensíveis ao óbvio ululante? Triste, reconhecer isso. Que futuro podemos esperar?