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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os cemitérios aquáticos: por que estamos matando os nossos rios?



Roberto Rocha

Quando leio as notícias sobre aquecimento global é muito raro que não haja, em cada uma delas, uma explicação sobre os impactos econômicos previstos ou já acontecidos. Gostaria muito que nessas oportunidades fosse enaltecida a importância protetora da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas associados. A conotação é mais voltada para os possíveis prejuízos na “produção humana” e o empobrecimento da economia. Fala-se pouco sobre os benefícios “naturais”: aqueles que não estão incluídos nos cálculos convencionais, conhecidos como bens ambientais ou bens difusos.
Embora eles possam prestar serviços relevantes à sociedade, não me parece que haja uma contrapartida - por parte dela ou o poder público – no sentido de preservá-los como algo indispensável e insubstituível. Imagine alguém falar sobre “pagar a um vegetal” por nos oferecer oxigênio? Ou “pagar aos rios e às nuvens”, por nos oferecerem água? Ridículo!? Não exatamente. Sabendo que eles – os vegetais, os rios e as nuvens, entre outros -, não têm uma conta bancária para fazermos os depósitos diários dos serviços que eles nos prestam, rigorosamente em dia. Deveríamos, ao menos, cuidar melhor deles. Mas o que vemos por aí? Rios mortos e esquecidos ao tempo, ou em suas sepulturas de concreto armado, sem direito nem mesmo de serem “redescobertos” para a retirada dos ossos. Os rios moribundos nos causam uma certa ogeriza e não costumamos fazer muita coisa por eles.

Muita gente deseja que sejam definitivamente enterrados, para esconder a lama e abafar o cheiro. Em relação aos rios mortos, você passa em cima deles e nem sabe que ali é um cemitério aquático: sem a mata ciliar, sem lontras, sem jacarés, sem cágados, sem rãs, sem pererecas, sem peixes, sem caramujos, sem barata d`água, sem lavadeiras, sem caranquejos e pitus, e tantos outros. Muitas crianças do século XXI não conhecem um rio de verdade. Os animais então, só aqueles da TV, do zoológico, de um livro ou revista. E assim, vamos lendo as reportagens sobre as questões globais sem dar conta que estamos cercados de questões locais, tão próximas.
Não podemos parar o aquecimento global, mas podemos revitalizar um pequeno rio. Protegê-lo dos esgotos não tratados. Quem mora no interior e tem um rio em sua propriedade, bem que poderia ajudar para que ele voltasse a ser o que era há 50 ou 100 anos. Quem sabe plantar as essências florestais que o seu avô falava tanto? Poderemos, de novo, tentar pegar um pitu (camarão de água doce) ou um caranguejo de rio? Cair sentado na água gelada e rir muito com as calças molhadas. Precisamos resgatar a vida natural, os hábitos saudáveis, para não correr o risco de fazer parte de uma população doentia e insana das próximas décadas, por não poder reconhecer mais a natureza em nós mesmos ou através dos nossos sentidos. O cérebro humano precisa de uma grande variedade de formas e cores para ser saudável: precisa de diversidade. Sem riqueza, corroída pela erosão genética, somos apenas uma câmera um pouco mais sofisticada, registrando a monotonia dos viciados padrões tecnológicos, imitadores da genialidade natural de Gaia. Reflita!

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